A Lei Federal número 11.769 sancionada em 18 de agosto de 2008 pelo
então Presidente Lula, decretava que a partir daquele ano, o ensino da
música seria obrigatório nas escolas brasileiras públicas ou privadas.
Foi dado as instituições de ensino um prazo de três anos para se
adequarem a exigência, contratando profissionais, estruturando espaços
físicos e adquirindo materiais necessários. Ao voltarem às aulas este
ano, os alunos deveriam se deparar com conteúdos de música, mas não é o
que vai acontecer, pelo menos na rede estadual de ensino. “Estamos
começando o ano sem professores para as disciplinas tradicionais. A
dificuldade de cumprir a exigência é concreta”, disse a Secretária de
Educação do Estado, Betânia Ramalho.
Aulas de música são em sala específica, ampla, que permite brincadeiras e aprendizado.
A Secretária disse que está ciente do problema e que estão sendo
traçadas estratégias para o cumprimento da Lei, uma delas, o de parceria
com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A parceria com a
Universidade já é realidade para as instituições de ensino em Natal.
Segundo a integrante do Departamento do Ensino Fundamental da Secretaria
Municipal de Educação, Adeilza Gomes Bezerra, o Município vai convocar
os 29 professores licenciados em música, aprovados em concurso realizado
em anos anteriores.
A convocação dos professores é uma das medidas para que a Lei Federal
seja cumprida, mas existem outras. Adeilza explica que a música será uma
das linguagens artísticas contempladas no currículo das escolas, ao
lado das artes visuais, dança e teatro. Cada ano dos ensinos fundamental
e médio contemplará uma das linguagens, sendo a música vista no
terceiro e sétimo ano. “Cada linguagem passa a ser uma disciplina
pedagógica, semelhante às demais áreas”, disse Adeilza. Com relação à
adequação de espaços físicos e compra de instrumentos, não será
preocupação do Município, pelo menos por enquanto. “A disciplina não é
para formar músicos e sim seres humanos”, explicou.
Esta filosofia de formar cidadãos é bem conhecida da doutoranda em
Educação, a paulista radicada em Natal, Maristela Mosca. Ela é pioneira
no Estado na implantação de projetos musicalizadores, em escolas.
Atualmente Maristela é professora do Núcleo de Educação Infantil da UFRN
e coordenadora de música, de uma escola particular da cidade.
Foi justamente nesta escola, que Maristela colocou em prática a
filosofia chamada Orff Schulwerk. A explicação do termo, já diz um pouco
sobre a filosofia. Orff é o primeiro nome do reverenciado compositor
alemão Carl Orff, criador da peça Carmina Burana. O segundo termo,
Schulwerk (de origem alemã), diz respeito ao que é desenvolvido em sala
de aula. Carl Orff preocupou-se com o desenvolvimento da música na
escola e seus conhecimentos foram levados às salas de aula e de música.
Filosofia sim, método não
A filosofia Orff Schulwerk é um dos caminhos para o ensino-aprendizagem
da música nas escolas. Segundo Maristela, certificada internacionalmente
para desenvolver o trabalho no Brasil, a filosofia não trabalha com o
ensino de teorias ou dispõe de métodos práticos para ensinar a tocar um
instrumento. Ela está focada no processo, na construção e não na
execução.
Diferente dos métodos, que tem um passo-a-passo a ser cumprido, a
filosofia Orff Schulwerk lida com as particularidades dos ambientes, a
heterogeneidade dos envolvidos no processo e assim por diante. Ele
inclui os aprendizes-fazedores numa proposta musical, afetiva e social.
Experiência que deu certo
Há 13 anos ensinando música a alunos de diferentes idades, Maristela
encontrou um caminho, que pode ser seguido pelas escolas potiguares. Ela
explica que a música faz parte do processo de formação escolar, cujo
principal objetivo é a formação de cidadãos, e que por isso dialoga com
ele.
Para a professora, não se trata de trabalhar a música como recurso
pedagógico, ou seja, ensinar matemática através da música, ou
incrementar o momento do lanche com canções. É algo que vai muito além.
Na escola onde implantou o projeto pioneiro de musicalização, música é
uma disciplina específica.
Os alunos vivenciam esta disciplina numa sala específica. A sala tem
instrumentos musicais, mas é ampla, permitindo o que para a pedagoga é o
mais importante, a brincadeira. Exemplificando na prática, Maristela
relata que as turmas da primeira série (com alunos de aproximadamente 7
anos) irão começar o ano conhecendo a poesia musicada da feira, aquela
que diz: “fui a feira comprar uva, encontrei dona coruja”. A partir
deste mote, são trabalhados temas transversais, na tentativa de entender
como a poesia foi construída. É neste momento que os alunos entram num
processo de compreensão dos elementos constituintes da música, que vão
além das noções de harmonia, ritmo, andamento, cadência e por aí vai.
A última etapa deste processo é a construção e compreensão da melodia.
Algo bem diferente de chegar com uma música pronta e pedir para que os
alunos “aprendam” a tocar ou cantar. “Os eixos deste processo são a
música, o movimento e a palavra”, explica a pedagoga e completa dizendo:
“a música é essencial no processo de formação, não apenas porque é
capaz de desenvolver a motricidade, a oralidade, a concentração, que é o
que todo mundo defende. Mas por estreitar a relação que o ser humano
tem com ele mesmo”.
Maristela Mosca diz que as escolas podem seguir por vários caminhos, mas
não devem nunca priorizar a técnica musical, focar-se no ensino de
instrumentos e voltar-se para a teoria. “Se as escolas conseguirem não
agir assim, já terão meio caminho andado”.
Este
texto está no site da tribuna do norte, e postado tambem no blog do
ponto de cultura da Filarmônica de São Tomé. foi puplicado no dia 02 de
fevereiro de 2011.
link direto nos textos. http://www.tribunadonorte.com.br/busca/?o=&q=maria+betania+monteiro&buscar=Buscar
link do site da tribuna do norte. .http://www.tribunadonorte.com.br/culturaelazer