O SILÊNCIO DE UMA ORQUESTRA
Concerto da Orquestra do RN é adiado por falta de pagamento
Respeito e incentivo fragmentados para uma orquestra que
Irá representar o Estado em uma temporada na China
Fotografia: Jardson Amaral
É ADIADO POR FALTA DE PAGAMENTO
Os concertos teriam ainda a função de subsidiar uma temporada da OSRN na China, em fevereiro de 2013. As apresentações foram articuladas pelo maestro Linus Lerner, nome que estaria nas apresentações de hoje e amanhã. O governo chinês oferece hospedagem, transporte local e alimentação; mas a tarefa local de viabilizar as 65 passagens internacionais parece agora ainda mais difícil. A data marcada da viagem seria fevereiro de 2013. Com a indefinição, é possível que fique para depois.
Variedade rítmica brasileira e a riqueza do cancioneiro musical nordestino
Será a primeira orquestra do Brasil a se apresentar no país oriental
Fotografia: Carlos Costa/Mossoró-RN
CHINA DE OLHO ATÉ NA NOSSA ORQUESTRA
Por
Sérgio Vilar
A característica praticamente uniforme na constituição instrumental das orquestras (de formação tradicional europeia) possibilita peculiaridades às sinfônicas brasileiras e, mais ainda, às nordestinas. A variedade rítmica da música brazuca ou a riqueza do cancioneiro musical nordestino - muito presente na obra de Luiz Gonzaga - presentes no repertório das orquestras tupiniquins encantaplateias mundo afora. E foi este diferencial o mote para a Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte ser a primeira do Brasil a se apresentar na China. O concerto histórico para o Estado potiguar está agendado para abril de 2013.
Mas antes de conquistar a China, a preocupação maior da OSRN é atrair cada vez mais o público potiguar. Quebrar o estigma de música elitista é o obstáculo. Para isso, a música erudita - quase sempre clássica - tem dividido espaço e acordes com chorinhos e canções regionais. "Este é o propósito da OSRN desde sua fundação. E hoje temos a meta de viabilizarmos três concertos mensais, sendo um oficial, um didático e um popular. Todos gratuitos", estima o atual diretor administrativo da OSRN, Luís Antônio de Paiva. Por ora, os concertos populares - em escolas, shoppings e praças - estão apenas no planejamento.
"Queremos tirar a Orquestra do teatro e levar à periferia. Por isso estamos incrementando o repertório com xotes, baiões, para aproximar o público. E já temos percebido a mudança de público. Já vemos até crianças presentes". Paiva ressalta que este será o repertório básico levado também à China. "Dessa forma queremos também entrar no calendário cultural do Estado; participar dos eventos festivos, a exemplo das festas juninas, e datas comemorativas. É uma maneira eficaz de tornar o trabalho da Orquestra cada vez mais perto de todos", ressalta o diretor, também músico e há 24 anos presente no cotidiano da sinfônica potiguar.
Escassez de concurso público para contratação de novos músicos
Fotografia: Carlos Costa/Mossoró-RN
Um concerto histórico para o RN está agendado para 2013
Fotografia: Argemiro Lima/Novo Jornal
FALTA SALÁRIO, FALTA MÚSICO
Hoje faltam 23 no quadro da Orquestra, mas o diretor pondera: "Repomos essas faltas com contratações temporárias. É uma forma de gerarmos melhor intercâmbio com músicos e aprendermos com eles. Na verdade esta é uma tendência mundial. Por outro lado os contratos temporários não nos permite termos estabilidade ou planejarmos temporadas. Então, o ideal seria mesmo o concurso público", conclui.
Uma seleção de talentosos músicos norte-rio-grandenses
Fotografia: Rodrigo Sena/Tribuna do Norte
CANÇÕES POPULARES NORDESTINAS CAIRAM NO GOSTO DOS CHINESES
O CD da Orquestra composto por músicas populares nordestinas foi o grande atrativo aos ouvidos chineses. O palco deve ser o suntuoso teatro de Beijim. E a música potiguar atravessará o Atlântico junto com os músicos. No repertório, peças do carnaubense Tonheca Dantas e do taipuense K-Ximbinho, entre clássicos do cancioneiro nordestino e peças chinesas. Mas até a viabilidade do concerto muito acordo e acordes rolaram por debaixo do palco. O embrião partiu da esposa de Luís Antônio de Paiva, a cantora Sibelle de Luna. Ela trabalhou com o maestro Manoel Martins, em Curitiba, especialista em Villa Lobos. O maestro mantinha contato com o colega regente Linus Lerner, gaúcho com trabalho de regência em orquestras no mundo inteiro e radicado nos Estados Unidos há dez anos. Manoel repassou um Cd com trabalho de música regional da OSRN a Linus, e deste aos músicos chineses.
A praticamente entrega da administração da Orquestra aos próprios músicos foi crucial nesse processo. O sistema de revezamento de maestros, iniciado em abril, possibilitou o convite a Linus Lerner. Foi ele o regente do último concerto e permanece hoje como o maestro da sinfônica potiguar. Um dos músicos da OSRN, Paulo Sarkis, disse que Linus tentou levar as sinfônicas de Curitiba e Porto Alegre ao mesmo palco chinês, sem sucesso. "Eles rejeitaram por serem triviais", disse.
A China possui um programa bancado por empresas e governo responsável pelos concertos de sinfônicas e grupos de dança de diferentes partes do mundo, geralmente apresentados em grandes teatros e em datas comemorativas, a exemplo do ano novo. "Eles rejeitam clássicos de Mozart e Beethoven, por exemplo, porque orquestras austríacas e alemãs fazem isso bem melhor. O programa chinês é voltado para essa excelência musical da cada povo. E nossos ritmos populares entraram no gosto deles".
"Nossos ritmos populares entraram no gosto deles"
O programa chinês é voltado para a excelência musical da cada povo
Fotografia: Carlos Costa/Mossoró-RN
REPERTÓRIO
Sarkis já adianta mais ou menos o repertório a ser mostrado: "Basicamente o mesmo do nosso último concerto, quando tocamos peças nordestinas como a gonzaguiana de Ciro Pereira, a suíte nordestina de Duda, Royal Cinema de Tonheca Dantas com arranjos de Gilberto Cabral. E deveremos acrescentar um choro de K-Ximbinho, outro potiguar, além de duas peças chinesas. E por aí vai". O concerto estava agendado, inicialmente, para dezembro. Segundo Sarkis, há um processo lento e burocrático de envio de passaportes e crivos para imigração.
Maestro brasileiro radicado nos EUA, regente e diretor artístico
de orquestra no Texas, Linus Lerner é o responsável
pelo intercâmbio da Sinfônica do RN com a China
Fotografia: Rodrigo Sena/Tribuna do Norte
A Orquestra Sinfônica do RN foi criada através do Decreto n.6874-A de março de 1976 por iniciativa do então Secretário de Educação e Cultura, João Faustino, passando a pertencer aos quadros administrativos dessa Secretaria. O primeiro regente foi o Maestro Mário Câncio Justo dos Santos, que organizou e regeu a orquestra por 10 anos. A princípio contava com um quadro de 23 músicos - apenas cinco residiam na cidade - executando um repertório barroco e camerístico. Em 1989 é integrada à estrutura básica administrativa da Fundação José Augusto, pelo Decreto n.10.338 e ingressam nela jovens músicos norte-rio-grandenses formados principalmente através do projeto UFRN-CSU da Cidade da Esperança, além de vários professores da UFRN que atuavam no projeto. O professor e maestro Oswaldo D'Amore passa a ser o novo regente, cargo no qual permaneceu durante 20 anos. A orquestra se amplia e passa contar com 60 músicos. Em 2007, assume a regência o maestro André Muniz. O padre Pedro Pereira foi último regente da OSRN, tendo regido a última apresentação da OSRN em dezembro de 2011, quando pediu demissão e a administração da Orquestra foi entregue aos músicos, que estabeleceram sistema de revezamento de maestros.
...fonte...
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Sérgio Vilar
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