Yuno Silva - Repórter
O samba, as marchinhas e o maracatu estarão presentes, mas a noite de hoje – definitivamente – será do frevo. Logo mais, às 19h, o Largo do Atheneu se transforma no epicentro da folia e abriga a tradicional abertura do Carnaval natalense, onde o prefeito Carlos Eduardo entrega as chaves da cidade ao Rei Momo e à rainha do Carnaval. A concentração está por conta do grupo de percussão Pau e Lata, que puxa público e cortejo escoltado por papangus pelas ruas de Petrópolis a partir de Mãe Luiza. Os shows no palco começam às 20h, com performance da banda Dugiba seguido da cantora Khrystal, mas a apoteose da programação é responsabilidade da Spok Frevo Orquestra, de Pernambuco, que se apresenta pela primeira vez ao público potiguar em um evento aberto – o maestro Spok já esteve em Natal com sua orquestra em outra ocasião, durante evento fechado em um hotel da Via Costeira.
“Será uma aula de frevo”, entusiasma-se Gilberto Cabral, coordenador do Carnaval 2013 em Natal e amigo pessoal do saxofonista Inaldo Cavalcante de Albuquerque, ‘identidade secreta’ do Maestro Spok. “Acredito que esse intercâmbio seja fundamental para elevarmos ainda mais o já alto nível musical dos artistas do RN”, aposta Cabral. Diga-se de passagem que a Spok Orquestra é tida como o “melhor grupo do mundo” quando o assunto é frevo, com turnês realizadas na Europa e Estados Unidos.
“Eles estão vindo com uma equipe de 25 pessoas, no esquema bate e volta, e toparam abrir o Carnaval aqui em Natal por um quarto do cachê que geralmente costumam cobrar nessa época”, avisa Gilberto Cabral, rebatendo às críticas quanto ao pagamento de R$ 25 mil à Orquestra. “Estão vindo por consideração, por amizade”, reforça. Spok Frevo Orquestra abre o Carnaval do Recife amanhã, ao lado de Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, entre outros nomes não menos famosos.
Gilberto Cabral, trombonista pernambucano radicado há pelo menos duas décadas no RN, conheceu Spok em início de carreira, e até hoje é considerado pelo maestro como um de seus mentores. “Dei algumas dicas pra ele, apesar de hoje ele ser o professor”, diverte-se Gilberto, “lembro que, naquela época, disse pra ele pegar o saxofone com mais firmeza com que se pega uma flauta”. Ano passado Gilberto foi convidado por Spok para ajudar na coordenação de um encontro que reuniu 500 músicos no Marco Zero, no Recife.
PRATA DA CASA
Capitão da banda Dugiba, Gilberto Cabral antecipou o repertório que pretende apresentar esta noite: “Seremos 40 no palco, tocando 80% de repertório local”, adianta. “A base será o frevo, mas estamos inserindo ritmos locais como o Zambê, que é muito forte e contagia. Ainda teremos no repertório músicas de Dosinho, batuques indígenas e uma suíte (pot-pourri) com músicas de Pedro Mendes, Talma&Gadelha e a famosa Praieira”.
Para o coordenador do Carnaval é “desinformação” alegar que os artistas potiguares não estão sendo prestigiados – as críticas são localizadas e recaem sobre a contratação da Spok Frevo Orquestra pela Prefeitura. “Durante a programação de Carnaval teremos shows de Kiko Chagas, Rastafeeling, Perfume de Gardênia, Sérgio Groove, Ivando Monte, Arquivo Vivo, Sueldo Soaress e Khrystal... é tanta gente que nem lembro de todos agora”.
Falando em Khrystal, a cantora e compositora também conversou com o VIVER e contou um pouco do que aguarda o público logo mais no Largo do Atheneu no show É D’Oxum. “Adoro fazer Carnaval, é uma festa democrática, contagia a galera toda, virou meio que tradição me apresentar nesse período. Vou cantar as músicas que fazem a minha cabeça no Carnaval, que curto, e dividi o show em blocos: Alceu, Moraes, Caetano; um bloco afro outro nordestino”.
Ela informa que levará para o palco sua banda, com algumas adaptações. “Será uma formação não óbvia, bem particular, onde o tecladista não vai simular a metaleira e sim tocar sanfona. A ideia é tirar o melhor com o formato que temos”.
Bate-papo
Maestro Spok, Saxofonista e arranjador
Spok, você e Gilberto Cabral se conheceram há bastante tempo. Qual a lembrança que você tem dessa época?
Apesar de termos quase a mesma idade, considero Gilberto um paizão. Foi o primeiro cara que virou pra mim e disse: ‘sopra com vigor, bote pressão que saxofone não é clarineta’. Não esqueço nunca: estávamos fazendo show em um baile e na época eu tocava bem suave. Desde então comecei a explorar melhor o instrumento. Sempre o admirei muito, observava e absorvi tudo o que me ensinou. É uma grande influência na minha carreira.
O que a orquestra irá apresentar aqui em Natal?
Vamos mostrar o que preparamos para o Carnaval do Recife, um repertório com muito frevo instrumental, de bloco, frevo canção e cirandas. É uma grande honra fazer esse show aí, ainda mais atendendo um convite do Gilberto. Vou receber ele no palco, será um encontro de orquestras e de grandes amigos.
Como será sua participação no Carnaval do Recife?
Estamos ensaiando sem parar, vamos abrir e encerrar a festa aqui em Pernambuco. Na sexta-feira (amanhã), após os tradicionais tambores das nações de maracatu regidos por Naná Vasconcelos, faremos um grande show no Marco Zero (Recife Antigo) acompanhando vários intérpretes (entre eles Silvério Pessoa, Luiza Possi, Fafá de Belém, Otto, Emílio Santiago, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Tibério Azul, Armandinho). E no encerramento do Carnaval vamos colocar 200 músicos no palco tocando frevo, imagina 40 trombones, 40 trompetes, e assim vai.
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